Por Davi Schmitz Martiny
Foto retirada de http://www.tiedyevibraçoespositivas.blogspot.com/
Como tudo começou a mudar dentro de você?
Lisiane: Na realidade sempre tem dentro de ti uma partícula, uma semente... Que eu não diria rebelde, apesar de sempre ser considerada a rebelde da família. Com 18 anos eu conheci a espiritualidade, comecei a freqüentar um centro espírita.
Houve algum mestre que te auxiliou a encontrar está semente?
Lisiane: Jesus! Na época que quando me abriu isso, naturalmente fui virando hippie. Gostar da espiritualidade e depois caiu todas as religiões orientais, eu gosto do budismo tibetano que até tem aqui em três coroas. Tudo isso me abriu as portas para o lado espiritual e consequentemente para o lado natural né, que acaba te levando para um estado mais hippie de ser. E as pessoas pensam dos hippies uma coisa, mas derrepente para mim, dentro da minha proposta é outra.
É uma vida completamente diferente todos sabem. Nos primeiros tempos dos hippies eles foram considerados os “contracultura” e tem toda essa relação. Como foi, você saiu de casa e virou hippie?
Lisiane: Com 18 anos eu sai de casa. E naquela época eu era um estilo surfista vamos dizer, andava de skate. Mas vamos dizer eu fui hippie quando peguei a mochila. Comecei a fazer artesanato com 18 anos. Aos 21 conheci o meu namorado, atual marido, pai da minha filha. A gente se encontrou, tínhamos as mesmas idéias sobre a vida e a gente tinha visto o filme The doors (risadas) que abriu muito a mente. No filme tem o lance do “chamanismo”, que não é uma religião, é tipo uma doutrina onde tu encontra o teu animal de poder, onde tu vai pra dentro de ti mesmo. A gente tinha essas coisas em comum, começamos a namorar. Eu fazia artesanato e comecei a ensinar coisas para ele e hoje ele se revelou um baita artesão.
Vocês ficavam viajando, vendendo artesanatos, cantando e escutando rock’n roll?
Lisiane: Estudamos na unisinos dos 21 aos 26, eu fazia publicidade. Morávamos em Porto Alegre e viajávamos sim mas no verão 3 meses, mas sempre com a mentalidade de voltar e acabar a faculdade. Então quando eu botei o pé na estrada para virar hippie assim foi com 26 depois de me formar. E na realidade é fácil, porque os caras que a sociedade enxerga como hippie não tem estudo, não tem nenhuma condições de estudar. Foi mais uma decisão nossa assim de botar o pé na estrada, que era o que a gente sempre quis fazer. A gente é vegetariano e é uma característica viajar. Sempre amamos viajar mas como vamos viajar então? Vendendo nosso trabalho né! Isso os hippies fazem a muitos anos já. E acabamos virando hippies por termos toda uma filosofia de vida assim, mas foi algo natural. Pô a gente amava assim, anos 60, rock’n roll, psicodelia, vida colorida, natural. The doors, hendrix, mas eu diria mais os brasileiros litoralistas, caetano veloso, gilberto gil, os mutantes, todas as mensagens deles. É natural sabe, não foi algo assim eu quero ser hippie, e a natureza.
E o alimento vinha de onde, vocês tinham sua organização ou vinha das corporações industriais?
Lisiane: Não, não... o alimento vinha sim da industria.
Certamente deve ter passado por varias experiências durante o tempo na estrada. Existe algum fato muito marcante que gostaria de compartilhar?
Lisiane: Na época em que estávamos viajando fomos parar numa cidade chamada São Tomé das letras, no interior de minas gerais que é a meca hippie. E lá vivia um cantor chamado Ventania e o meu marido como é músico um dia encontrou ele e fizeram um show sem nunca ter tocado juntos e o show foi simplesmente maravilhoso, todo mundo pirou. Eu pirei no show sem usar nada, pura sintonia. E então eles convidaram o Rafael para tocar com eles, que é o sonho de qualquer hippie e músico. Ficamos quase um ano morando lá onde tem muitos hippies, artesãos e muitas doutrinas além da pedra são tomé que é vendida para o mundo todo. O Rafa também tocou com uma banda de rastafari e começamos a andar direto com eles.
Tem alguma relação entre os Hippies e os Rastafaris?
Lisiane: Tem sim, são muito parecidas. O lance do sentimento natural. Viver no meio da natureza, não se alimentar de outros seres né, viver na maneira mais natural possível e também tem a música e no fim se torna tudo a mesma coisa né, não tem nomenclatura, todo mundo é o que é.
Alguma coisa sobre drogas ou plantas? Parece ser automático assim: woodstock-hippies-drogas sabe.
Lisiane: Sim, sim. Isso é uma coisa inevitável. É natural assim, tem certas pessoas que tem uma tendência para expandir sua consciência, assim como tem outras que não, que não podem usar certas substancias porque podem ficar realmente loucas. Mas a gente participou de uma doutrina chamada Santo Daime que usa o sacramento da Eulasca que é uma bebida feita de uma raiz e de uma folha. Aqui na unisinos tem o grupo do Santo Daime na cadeira interdisciplinar de religião e o meu marido quando eu conheci ele fazia parte desses grupos. Tomei vários chás e até hoje a gente faz uns trabalhos assim. Já tive assim varias experiências psicodélicas, mas agora eu sou mãe e tal parei um pouco com essas coisas. A ganja também que é usada como um sacramento divino pelos rastas, que é uma coisa super natural. E viver desta maneira que as vezes tu acaba se deparando no caminho com plantas, que são plantas de poder que fazem você expandir a consciência e te levam para lugares muito maravilhosos.
Qual foi o lugar mais maravilhoso que você já visitou?
Lisiane: Dentro de mim mesma! Um lugar infinito dentro de mim mesma. Fecho os olhos e vou para lá, um lugar muito maravilhoso onde mora deus né, onde está o divino. Só que ao longo do tempo, da tua experiência tu acaba percebendo que bom é visitar este lugar sem nada, derrepente com meditação, ioga. É mais difícil, mas super possível.
E o momento de hoje, que você trabalha, tem seus artesanatos e não está mais viajando?
Lisiane: É, to na babilônia agora né. Trabalho na radio Unisinos agora onde sou locutora, eu adoro. Mais por causa da música, amo música, me identifico muito com ela, toco alguns instrumentos, meu marido é musico. E tenho também minha marca de roupa chamada Vibrações Positivas que faz bolsas, roupas, acessórios e a gente vende pela internet. Fizemos feiras, algumas festas também. Sempre nessa proposta de “faça você mesmo”, algo que vem do punk.
E a marca Vibrações Positivas está dando certo, como está a aceitação?
Lisiane: Nossa, da super certo. A gente já vive só disso a oito anos e é uma marca que já ta ficando conhecida. Já posso até abrir uma loja porque a procura é grande Temos em nosso apartamento um espaço que é tipo uma lojinha improvisada. Mas vendemos pela internet e enviamos para o brasil inteiro.
Houve momentos com muita dificuldade? Passaram por momentos em que não conseguiam vender seu trabalho nesse tempo em que estiveram na estrada vivendo a liberdade?
Lisiane: Pá cara! quando você faz esse trabalho artesanal nunca te falta dinheiro. A gente já fez mil reais numa feira por exemplo e decidiu viajar para o outro lado do brasil onde tinha uma festa de uma semana chamada Universo paralelo. Chegando lá com apenas quinze reias no bolso, só que na mochila tinha cinco mil reais de trabalho. Então a gente não se importava por estar com quinze, porque amanhã vou estar com quinhentos no bolso. Tu precisa saber onde está o teu público né e aí ir atrás dele.
Como foi para vocês ter uma filha?
Lisiane: A nossa filha é maravilhosa, super querida. Foi a melhor coisa que aconteceu na nossa vida. Legal que eu pude viajar, curtir muita coisa assim com a pessoa que eu amo, pessoa que eu quero que fiquei na minha vida junto. Oito anos só curtindo, beijando e tal, aí a gente teve nossa filha.
Você acha que hoje não é mais hippie?
Lisiane: Não, sou com certeza. Bá, hippie é uma coisa que ta na alma sabe, tudo natural. E apesar de eu tomar coca cola, eu sou hippie sim (risadas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário